27.9.04

 

Convergência de Humores – Crónica Desabrida

Hoje, vários colegas me falaram do artigo de Miguel de Sousa Tavares da passada 6ª Feira, dia 24, no Público, intitulado Sinais de Desagregação.

Começa a ser frequente encontrar uma certa convergência no pensar e no sentir de algumas pessoas que têm por hábito meditar a coisa pública, quer gozem ou não da notoriedade dos media, quer tenham ou não convívio entre si. Pode ser uma questão de proximidade etária ou de percurso intelectual, mas não deixa de ser curioso e sintomático. Afinal, todos os que reflectem a Política sofrem na consciência a fealdade de tanta enfatuada asneira, distribuída com arrogância pelo nosso jet-set da Gestão, da Política e do Espectáculo, por qualquer ordem que se entenda atribuir a estes termos.

MST, que, não sendo infalível, nem certamente moralmente inatacável, como nenhum de nós, comuns mortais, pertence, todavia, a um reduzidíssimo número de comentadores/jornalistas que são capazes de pensar pela sua cabeça e não temem desagradar a certas «eminências pardas» ou a certos «poderes ocultos» que se julgam acima de tudo e que acham que tudo lhes é devido, porque imaginam ter sido investidos por uma espécie de Alto Poder, algo semelhante ao Absoluto Divino, instância de onde, lembre-se, diziam dimanar o poder de certas monarquias de antanho, que, não se esqueça também, lograram um desgraçado fim, num dia de Verão, de encalorada exaltação, lá para as terras da nobre e elegante França, deveras surpreendida com o furor da turbamulta entregue a toda a sorte de desmandos em violenta algazarra.

Não quero ser profeta da desgraça, mas há coisas a passarem-se que excedem a nossa humana capacidade de bonomia.

Que haveremos nós então de fazer, com toda esta tropa fandanga, que se colou ao Poder, por definição, legítimo, porque democrático, obtido democraticamente, com o suposto assentimento participado de todos nós ?

Há trinta anos que, sozinhos, coligados ou em disputa aparentemente exaltada, por inconciliáveis opções doutrinárias que ninguém descortina, ocupam as «Cadeiras do Poder». Muitos, entretanto, já trataram de ficar ricos, apesar das debilidades do país, que «os distintos» não têm culpa que este seja acanhado e não apresente maiores índices de produtividade.

Eles bem se esforçam, como podem, para aumentar o rendimento per capita da nação, que, é bom de ver, sem o seu contributo, seria ainda mais modesto, envergonhando-nos ainda mais nas estatísticas internacionais onde já ficamos mal colocados.

E aos outros, que lhes resta fazer ? Como poderão contribuir para a melhoria dos índices económicos do país ? Seguindo o exemplo lustroso das figuras altaneiras ?

Pode parecer a muitos uma visão algo radicalizada e azeda da actual situação política, mas que outros motivos nos dão estas celebridades para pensarmos de maneira diferente ?

Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra ?

Até quando estes novos Catilinas pensarão que podem continuar a abusar impunemente da nossa limitada paciência ?

Outros assim pensaram, mas viram por fim chegar o seu amargo dia do ajuste de contas. Então, haverá choro e ranger de dentes, como reza o Evangelho ...

AV – Lisboa, 27-09-2004

Comments:
caro amigo, li os últimos posts e fiquei com uma sensação estranha. a de que nossos paises vivem grave momento político. talvez fosse a hora de gente como nós realmente ressaltar os laços que nos unem.tenho lido com atenção os seus escritos e fico pensando como nós aqui nos afastamos de nossas raízes lusas para buscarmos aventuras com gente que nos vê apenas como bons selvagens. nosso presidente pensa que é um líder mundial, quando não passa de um tolo.voltarei a escrever sobre esse assunto. receba um abraço de seu amigo. Carlos
 
Caro António,lendo seu texto, tão bem escrito como é do seu costume, com uma citação em Latim que me fez recordar meu tempo em que estudava Latim, noto que você mantém, ao lado de sua lucidez, toda sua inquietação. Enquanto eu tratei de tema semelhante com ironia, você o faz a sério (minha ironia também era séria!), "não abrindo mão da sua revolta", segundo a Filosofia de Albert Camus. Eu me pergunto: De que adiantam minha ironia ou sua revolta? Haverá uma saída? Quando, de fato, cada um tomará em suas mãos seus deveres? Quando haverá, de fato, Respeito entre TODOS? Perguntas sem respostas... Assuntos para crônicas (crónicas, não?)!!!! Mas se podemos falar, que falemos. E bom seria se todos falassem tão bem como você.
Fiquei muito feliz com sua visita e comentário.
ABRAÇOS.
Bisbilhoteira.
(www.bisbilhotices.blogger.com.br).
 
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